Drogaria São Bernardo

Quando me mudei para esta zona, fiquei a conhecer quase todas as drogarias e casas do género que aqui existem. Precisei de comprar muitos utensílios novos para casa, acessórios de limpeza, material de cozinha, algumas ferramentas, etc.
Tinha uma drogaria, mais pequena e com menos artigos, pertinho de casa mas quando o que procurava não encontrava lá, dirigia-​me à Drogaria São Bernardo, trocava umas palavras com o Sr. Manuel e levava para casa o que precisava.
De resto, o dono do estabelecimento é mesmo uma simpatia de pessoa. Gosta de conversar e gosta muito de falar com malta jovem. Passava sempre lá mais tempo do que tinha pensado mas nunca dava o tempo por perdido.

Passei para aí meia-​hora a conversar com o Sr. Manuel na bela drogaria, perfumaria, se é que assim se pode chamar. O que me fascinou foi que no meio daquelas drogas, coisas para a casa e cheiro de drogaria estivessem quadros, pelas paredes, lá em cima, quase no tecto alto daquela casa centenária. E que lindos, que pródigos os quadros deste senhor, fazendo lembrar a Frida Kahlo! E depois o Sr. Manuel ainda recitou um poema para mim, e cantarolou um fado com a vizinha cliente que por ali entrou como se estivesse em casa. Fez-​me lembrar a do Evaristo, do filme! Enfim vim embora, com a pastilha de melão que o Sr. Manuel me passou, como um avô, e mais um frasquinho de perfume que ele faz mas que se vende como aroma para a casa (xiu, agora é proibido), e com um sorriso de felicidade na cara.

Na drogaria do Sr. Rodrigues encontram-​se verdadeiras relíquias mas nem tudo é para vender. Sempre que me faltam coisas estranhas como um pouco de massa de cimento, ou um prego com patilha de suporte ou mesmo uma pilha para o relógio, o Sr. Rodrigues arranja-​me e na maior parte das vezes nem me deixa pagar! Ora porque o pacote do cimento já estava aberto e ele retira um pouco de quantidade, somente a necessária para resolver o meu problema; ora porque diz que um prego não tem valor e ali as coisas não se vendem em pacotes, se o cliente só precisar de uma ou duas unidades. Uma vez levei um frasquinho de vidro para ele verter um pouco de água rás (essência de terebentina). Mas é claro que produtos em quantidade também se arranjam! Também já lá comprei um escovilhão pequenino que não encontrava em lado nenhum e uma base para o fogão a gás com o diâmetro pequeno da cafeteira. Além destes desenrasques, o Sr. Rodrigues é pródigo em arranjar soluções para todo o tipo de serviços do bairro. Como conhece os espaços mais antigos de Santa Isabel, de Campo de Ourique e, em geral, das redondezas, recomenda-​os como se de uma visita a casa dos amigos se tratasse.
Outra particularidade deste espaço é que expõe antiguidades (máquinas de costura, câmaras fotográficas); peças de autor; pinturas entre muitos outros artigos que não comercializa. A montra é um deleite. E atrás do balcão o espaço de armazém é muito grande. É mesmo obrigatório conhecer esta drogaria porque a pessoa que nos recebe é encantadora e única. Se tiver sorte, ainda ganha um poema improvisado na hora. O sr. Rodrigues além de tudo é poeta… e já foi surfista!