Casa das Águas

É uma loja de antiguidades e velharias muito peculiar; como nos estabelecimentos congéneres, a curadoria da oferta está estreitamente relacionada com preferência dos donos e dos fregueses. Muito do que aqui se encontra são pequenos objectos do quotidiano de outrora, que partilham as vitrines e prateleiras com memorabilia militar e outras curiosidades.

Há certos momentos na nossa vida que merecem uma reflexão. O instante em que li, em plena Rua do Ouro, a tabuleta «Casa das Águas», é um deles. Como é que é possível que eu já tenha passeado tantas vezes naquela zona, conhecendo até razoavelmente bem o comércio da Baixa, e nunca tivesse vislumbrado aquele pequeno estabelecimento? É mesmo melhor andar de olhos bem abertos, senão corro o risco de perder estas e outras preciosidades lisboetas.
Se em tempos que já lá vão, esta Casa vendia água a copo (por mais que tente, não consigo imaginar tal situação), atualmente mata a sede de colecionismo e de curiosidade dos visitantes que lá vão entrando à procura de objetos antigos, mas sobre os quais continua a existir um interesse intemporal. Ao olhar para cima, deparo-​me com uns candeeiros que, mesmo sem funcionarem (pelo menos na loja), iluminam-​me a alma com a sua estética tão única. Por entre a confusão de objetos que se amontoam, tal como se estivesse num qualquer sótão, encontro um retrato da sedutora Marilyn Monroe ao qual está encostado o histórico quadro de A Proclamação da República Portuguesa.
Realmente, as surpresas estão ao virar de cada olhar: nesta «arrecadação», encontro uma caixa de peditório da Cruz Vermelha Portuguesa (muito provavelmente oriunda dos tempos do Ultramar), o olhar intenso de Amália em quadros e capas de cds, um retrato de D. Carlos e cartazes publicitários que anunciam os Sabonetes Claus e a bebida Anis Portugal…
Conclusão: as pequenas lojas não se medem aos palmos!

É praticamente vizinha do Elevador de Santa Justa. Encontrei-​a por acaso; uma loja pequena que quase passa despercebida. Assim que entrei vi apenas um amontado de artigos para venda. É de estranhar para quem não conhece — mas, já dizia o ditado, «primeiro estranha-​se, depois entranha-​se». A loja está caoticamente organizada, até porque o proprietário José Marques movimenta-​se bem e conhece os cantos à casa — que existe desde 1907; noutros tempos, ali vendia-​se água a copo, quando ainda não existia rede canalizada na cidade de Lisboa. Agora há candeeiros, rádios, máquinas de escrever (que apetece-​me levar para casa), discos de vinil, uniformes de diferentes registos (Exército, Marinha e Polícia de Segurança Pública), quadros, chapéus e capacetes… tudo de outros tempos. É um espaço vintage, dedicado por inteiro ao colecionismo — de colecionista não tenho nada, mas dá gosto ver o que se consegue juntar com gosto e dedicação. A loja, apesar de pouco iluminada, é um regalo para os meus olhos.

Na Casa das Aguas encontra-​se de tudo. É uma loja de antiguidades de coleccionismo. Quando se pensa que é já impossível encontrar aquela peça que falta à nossa colecção, entramos aqui e tudo é possível. A minha perdição são as latas e na Casa das Águas o que não faltam são latas de todos os tamanhos e feitios, objectos únicos e de muito valor.